domingo, 11 de janeiro de 2015

Leva o meu coração com você.

Nos conhecemos naquele bar no centro da cidade, que o pessoal da faculdade resolveu eleger como o bar mais descolado do lugar. Também pudera, não tem muitos bares decentes naquele lugar. Lembro até hoje a roupa que eu usava, e a sua também. Eu usava o primeiro vestido que encontrei no guarda-roupa, enquanto você usava aquela sua camisa xadrez, que depois de um tempo eu descobri que era a sua camisa preferida.

Eu tinha terminado meu namoro, não fazia nem um ano direito, e juro que eu estava odiando todos os homens da face da terra. Eu gritava aos quatro ventos que nunca mais ia me envolver com ninguém, e caso eu quisesse ter filho algum dia, certeza que eu adotaria ou os teria sozinha. O meu problema não era você, eram os homens de uma forma geral. Meu coração estava em pedaços depois que aquele babaca disse que “o problema não era eu, mas ele”. E eu jurava que mais uma dessa, eu morreria. Mas eu fui pro tal bar, arrastada, carregando meu coração num pote, que era pra ver se ele sobreviveria até eu ver meus sobrinhos nascerem.

Juro que quando te encontrei, sentado naquela mesa, com aquele monte de piriguete em volta, achei que você fosse algum clone do meu ex ou qualquer coisa do tipo. Mas tudo bem, eu não estava ali por sua causa mesmo. Depois de um tempo, lembro que você se aproximou da mesa que eu estava com meus amigos, e perguntou se podia sentar também. Antes que eu pudesse dizer um enorme e grosso “não”, uma amiga disse que podia, e você sentou.

Olhando mais de perto, você estava tão lindo com aquela camisa xadrez, que até senti vontade de pedir pra você segurar o pote do meu coração, enquanto eu descansava a mão. Mas claro que eu não fiz isso. Eu sou eu, né? Tive que manter minha pose de “estou fechada pra balanço para sempre”. Mas foi quando você sorriu e disse que amor não machucava, que eu fiquei desconcertada. Oi? - eu disse meio atordoada, sem saber se você sabia que meu coração estava aos pedaços ou tinha sido só mais uma dessas táticas que você pegou com algum amigo. Você e seu coração, e sua pose de mulher maravilha, não enganam ninguém, pelo menos não a mim – você disse como quem diz algo muito óbvio pra uma primeira conversa.


E foi entre eu não ser uma mulher maravilha e o fato de você querer casar e ter dois filho, que eu até consegui esquecer um pouco da minha vida bagunçada e do meu coração aos pedaços. Ficamos conversando até altas horas da noite. Meus amigos foram embora, e eu simplesmente acenei com a mão e disse nos-vemos-na-segunda. E continuamos conversando madrugada a fora. Vimos o sol nascer, e as pessoas acordarem cedo pra ir trabalhar. Pela primeira vez na vida, eu fui quem eu queria ser de verdade. Lembro que às sete da manhã, eu já parecia um panda por causa da maquiagem forte da noite anterior, mas nada disso importava entre a gente. A noite teve aquele sereno de chuva, sabe? E meu cabelo já era só frizz.

Você me contou sobre sua vida, sobre o quanto você queria viajar o mundo e sair por aí meio sem rumo. Eu quase implorei pra você me levar junto, mas achei meio precipitado. Você me contou sobre sua família e sobre seus dois gatos e um cachorro. Eu quase pedi pra fazer parte desse seu mundo tão bonito e tentador. Perto de você eu me sentia até mal. Você era um cara todo certinho e eu era só pedaços pelo chão. Quando você me ofereceu sua blusa xadrez pra vestir no meio da noite, eu quase pedi seu coração e seu sorriso emprestado, tipo “ei, me empresta pelo amor de Deus o seu coração, o seu sorriso e o seu colo? Só enquanto eu colo as coisas aqui por dentro, depois pode ficar à vontade pra ir embora.”. Era estranho porque eu nunca tinha me sentido assim com ninguém. Geralmente eram as pessoas que queriam fazer parte da minha vida de mentira, e não eu querendo me enfiar a todo custo na vida de alguém.


Nove horas e trinta minutos. Era essa hora que o relógio marcava, quando você você me deixou no quarteirão de casa. Óbvio que eu não poderia simplesmente te apresentar minha casa assim, né? Você poderia ser algum sequestrador que depois iria me raptar de casa. E foi nessa hora que desci do carro, e fiquei torcendo pra você gritar e falar alguma coisa. Sei lá... Falar que você percebeu que eu era a mulher da sua vida, ou que eu tinha esquecido um brinco no seu carro, ou que você queria que eu lavasse a sua camiseta xadrez preferida. QUALQUER COISA!

Ei, você esqueceu seu coração aqui, posso levar comigo? – você falou sorrindo, enquanto eu caminhava de volta em sua direção.

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