quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Não em Paris.

Você falou pra eu ir embora, e eu fui! Peguei todas as minhas coisas que estavam com você, e vim juntando os pedaços que eu encontrava pelo chão. Larguei sonhos, planos, carnê do nosso carro compartilhado e até os ingressos daquele show que não deu tempo da gente ir. Deixei tudo pra trás! Passei meses trancada dentro de casa, revivendo e relendo e revendo e "re" tudo aquilo que me fizesse lembrar da gente.  
Passei todos os meses agarrada na esperança boba, de que você iria me ligar e dizer que tava morrendo de saudade ou que no dia que "mandou eu seguir com a minha vida", você tinha tomado algum remédio e tinha perdido o juízo, mas-que-agora-já-estava-tudo-certo-com-a-sua-cabeça. Mas isso não aconteceu! 
Você não me ligou em nenhum dos meses que eu resolvi me fechar pro mundo, nem apareceu, nem mandou mensagem perguntando se eu tava viva, nem me lembrou que eu tinha que dar comida pros peixes, ou que as plantas da minha varanda iriam morrer se eu deixasse elas sem água por muito tempo.

Você não voltou! E eu tive que seguir minha vida! 

Os meses trancada em casa passaram, e aí eu recebi um dos melhores convites da minha vida. Fui morar fora do país! Quer coisa melhor que isso? Me livrei de todos os lugares que me lembravam você. Conheci pessoas novas, treinei o meu francês que já estava quase ficando enferrujado... Nossa! Como eu me renovei depois que você mandou eu ir embora da sua vida! Renasci cem anos em oito meses, e me tornei uma pessoa tão melhor sem você... Cresci como pessoa e aprendi a cuidar de mim sozinha. Aprendi a levar blusa de frio pros lugares, já que eu não tinha mais as suas jaquetas enormes no fim da noite. Aprendi a comer direito, e hoje até como alface e todas aquelas besteiras que você dizia que era importante pra saúde...
Confesso que nesse tempo que passei fora, só lembrei de você uma vez. Lembra aquele café que tem na Champs-Élysées? Lembra de todos os planos que a gente fez pra conhecer ele juntos? Pois é... Quando entrei lá e vi aquele lugar e como tudo era tão milimetricamente maravilhoso, quis por um instante, ter você ali comigo! Mas logo saí daquele café- que por sorte estava com problema nas máquinas. Fui até outro lugar que nunca tínhamos planejado nada juntos... 
Até hoje eu sinto vontade de voltar naquele café, só pra agradecer o dono por ter me feito sair logo de lá, e não ter deixado eu resgatar mais nenhum plano que eu e você tínhamos feito juntos. Porque afinal de contas, ninguém merece sofrer por amor em Paris né?