quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Volta pra casa.

Volta pra casa, mas limpa o pé no tapete novo que eu coloquei na porta da cozinha.
Volta pra casa, mas volta certo de que eu mudei muito... E ainda não sei se isso é positivo.
Volta pra casa, e presta atenção no cachorro que eu comprei. Você sabe que sempre foi meu sonho ter um cachorro. E percebe, antes eu queria casar, ter dois filhos e esse cachorro. Hoje, eu só tenho o cachorro (talvez isso seja mais minha culpa do que sua).
Volta pra casa e tenta se adaptar a minha nova rotina. Eu lembro que você falava que eu trabalhava muito, estudava muito, né? Hoje eu diminui no trabalho, e estou estudando mais - você sabe que esse prazer eu vou carregar comigo pra sempre. E você só precisa se acostumar com isso.
Volta pra casa e decora o número novo do telefone. Eu mudei o número pra não correr o risco de você ligar por engano e eu ter que ouvir sua voz dizendo "desculpa, eu ia ligar pra outra pessoa".
Volta pra casa e pede pra eu fazer o jantar dessa vez. Eu aprendi a cozinhar porque eu não aguentava mais comer fora de casa. Chega uma hora que a gente cansa de ser amiga do dono-do-restaurante, e quer só jantar em casa, assistindo a nossa televisão, quietinha.
Volta pra casa e vai olhar meu guarda-roupa. Fiz o que você pediu, e doei várias roupas que eu nunca tirei nem a etiqueta.
Volta pra casa, e entra no quarto da bagunça. Eu transformei ele em um escritório, pra ver se eu paro de deixar papéis espalhados pela casa toda.
Volta pra casa e da uma olhada na estante. Coloquei várias fotos minhas e da minha família. Falta você, ainda.
Volta pra casa e da "oi" pro novo porteiro do prédio. Ele nem conhece a gente. A gente, eu, você, nós dois juntos, você entendeu? A-g-e-n-t-e!
Volta pra casa e percebe que eu estou menos chata com o português, e se alguma professora da época de escola lesse esse texto, ia perguntar em qual planeta eu estou vivendo, porque a gente não existe. Nem no português, e sei lá se existe na nossa vida.
Volta pra casa e percebe que eu continuo menininha, mulherzinha. E antes que digam que esse diminutivo me diminui como mulher e todo esse bla bla bla, vou logo dizendo que do nosso-diminutivo-a-gente-é-que-cuida, e muito bem, obrigada!
Volta pra casa e percebe que eu mudei. Deixei meu lado insegura pra trás, e agora tomo decisões sérias, sem me martirizar por muito tempo.
Volta pra casa, e vê que eu mudei o sofá, a televisão e todo o resto dela.
Volta pra casa e se toca que ela mudou e eu também mudei, porque não conseguimos levar a vida do mesmo jeito, sem você por perto.
Volta pra casa, diz que esse tempo longe só serviu pra você perceber que até gostava do meu jeito complicado de levar a vida, diz que vai me ensinar a descomplicar e que apesar de tudo, eu ainda continuo sendo a mulher da sua vida, a futura mãe dos seus filhos e a dona de todos os clichês que você sempre despejou em cima de mim, mas eu nunca soube dar valor.